segunda-feira, 18 de abril de 2011

Descobrir a Índia (26-03-2011)



Bem, cá estou de novo para descrever mais um dia incrível na “Incredible Índia” (como no slogan de promoção turística do país) e o tema principal deste terceiro dia é a “pobreza”.

Depois de ter estado num hotel de luxo chegou o momento de enfrentar a outra parte da Índia – a parte pobre. Saí do hotel num táxi que me iria levar ao próximo destino desta aventura (Agucha). Pelo caminho e mal saímos do centro da cidade de Udaipur em direcção à zona mais desértica, começaram logo a aparecer os sinais de pobreza, que até a aquele momento se tinham “afastado” do percurso. Comecei a ver barracas minúsculas onde tudo se vendia, mas os proprietários preferiram focalizar-se numa determinada área de negócio: encontrei barracas munidas apenas com um compressor onde apenas se enchiam pneus (como podem ver na foto deste post), encontrei barracas que tapavam pneus, outras que vendiam pneus, outras que só vendiam um determinado tipo de peça de carro ou camião, etc. Tudo servia para fazer negócio e para levar a vida.

Outro tipo de negócio que existia por todo lado era a venda de “comida” “take away” (era mesmo comida de atirar fora e se calhar deveria ser denominada de “throw away” ou se preferirem, “throw up”). O que para mim era uma coisa nojenta, para os indianos mais simples, como o caso do taxista que ia connosco, era uma refeição tradicional. Lá parámos numa destas barracas para que o taxista tomasse o pequeno-almoço. As especialidades principais desta barraca eram as chamuças pulvilhadas de cocó pelas moscas que lá poisavam de quando em vez e outra mixórdia de arroz e ervas cozinhada ali mesmo na berma, ao sol e ao pó e manuseada directamente pelo proprietário, literalmente. Vejam algumas fotos do “menu” para vos fazer crescer água na boca (ou vómito):







Pensando bem, cá em Portugal também existem barracas deste tipo na berma da estrada onde se costumam assar uns franguinhos e uns bifinhos de vaca que fariam vomitar qualquer indiano, por muito pobre que fosse (quanto mais não fosse pelo facto de não comerem vaca ou carne em geral). Em Ponte de Lima e a caminho de lá, pela estrada nacional que liga Braga a Ponte de Lima (Estrada Nacional 201) existe uma tasca deste tipo e confesso, que também não era capaz de parar lá para comprar comida.

Se a comida tinha "bom" aspecto, o que dizer da água e restantes bebidas. Aproveito este momento para avisar que um dos principais problemas das viagens à Índia (e não só) é possibilidade de bebermos água contaminada. É por isso obrigatório para manterem a vossa saúde, beberem apenas água engarrafa. Mas olhando para as garrafas que estavam disponíveis nesta tasca, o facto de estarem engarrafadas, não garantiam que a água que continham no seu interior fosse potável (já para não falar no facto de estarem ao sol, tal como as restantes bebidas). Estas garrafas eram de origem duvidosa e podiam até ter sido enchidas pelos próprios proprietários destas tascas num qualquer ponto de água ou esgoto ao ar livre. Para além de garrafas de água, esta tasca tinha também 7up, Pepsi, Coca-Cola, Aquarius, entre outras bebidas internacionalmente conhecidas, que também deveriam ser falsificadas ou misturadas com poluição, doenças, etc. Para beberem água na Índia, comprem-na em estabelecimentos de qualidade e não aceitem garrafas por abrir e para que a mensagem vos fique gravada no cérebro, deixo aqui uma foto das bebidas existentes neste estabelecimento:



Talvez por beberem líquidos duvidosos, os indianos estão sempre a urinar por tudo quanto é sítio. Durante a viagem, presenciei inúmeros casos, o nosso taxista, transeuntes e condutores e até presenciei uma operação STOP das forças das autoridades indianas e enquanto dois agentes viam a documentação de um condutor, um terceiro urinava calmamente ao pé deles. Vejam alguns exemplos deste fenómeno:





Para além de barracas, também encontrei algumas crianças a pedir esmola tal como foi possível ver no filme “Slumdog Millionaire” (“Quem quer ser milionário” ou ainda “Quem quer ser bilionário”). Esta não foi a única situação que presenciei que me fez lembrar o filme e mais para a frente irei divulgar mais uma ou duas… Vejam a foto de um rapazinho e uma rapariguinha a pedirem esmola junto à janela do táxi:







Mais para frente na viagem, passei por zonas ainda mais pobres onde as “casas” tinham apenas uma divisão minúscula que servia para tudo: para dormir, comer, estar, tomar banho, etc. As casas não tinham electricidade, nem água canalizada, nem saneamento, nem móveis, nem nada. Por entre as casas serpenteava um caminho de terra batida e esburacado pelos regos de esgoto a céu aberto que para lá escorriam das barracas e por onde o nosso táxi milagrosamente passou. Vi as pessoas a passarem o tempo a descansar à sombra devido ao enorme calor que por lá se fazia sentir e que não dava vontade de andarem a trabalhar. Estas pessoas sobrevivem com poucos recursos e com o pouco que conseguem extrair da terra e dos animais que lhes servem de sustento. Apesar de ser uma imagem perturbadora e triste, acredito sinceramente que aquelas pessoas são felizes assim simples e despreocupadas com o resto do Mundo industrializado e consumista que, por não o conhecerem, não lhes proporciona vontade de serem diferentes.

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