domingo, 17 de abril de 2011

Descobrir a Índia (25-03-2011)



Neste segundo dia na Índia e depois de uma boa noite de sono e de um pequeno-almoço cheio de coisas saudáveis (croissants, queques, torradas, etc.) no Hotel/Palácio LaLiT, chegou o momento de ir enfrentar o caos do trânsito na Índia. No primeiro dia já tinha tido um pequeno preview do que poderia ser o trânsito, mas só no segundo dia deu para o compreender melhor.

Em primeiro lugar gostaria de informar que as regras de trânsito “oficiais” (mais para a frente deste post vão perceber o porquê das aspas na palavra “oficiais”) indicam que se conduz pela esquerda e não pela direita como em Portugal e na maioria dos países do Mundo. Esta foi a primeira grande experiência, já que o meu cérebro estava formatado para ver os carros e motas a circularem pela faixa da direita e a contornarem as rotundas no sentido contrário dos ponteiros do relógio, mas na Índia era tudo ao contrário. Para além de ser tudo ao contrário, as referidas regras de trânsito, as placas de sinalização, os sinais de STOP, as marcações horizontais na via são meramente cosméticas e facultativas.

Na Índia existem apenas 3 regras fundamentais:
  • First In First Out (FIFO) – Se alguém vai a na estrada e encontra um espaço por onde passar (seja pela berma, em contra-mão, pelo passeio, etc.), quem o fizer primeiro, tem prioridade. Esta regra faz com que, mesmo existindo apenas uma estrada com duas faixas, uma para cada lado, por vezes vemos 3 ou mais veículos lado a lado e na mesma direcção, ultrapassando-se mutuamente, utilizando as bermas da estrada dos dois lados e fazendo com que o trânsito que vem no sentido contrário pare para que estas ultrapassagens terminem sem acidente. Esta é uma regra que funciona bem na Índia (e em outros países) já que quem chega em segundo, espera calmamente pela sua oportunidade de passar. A regra é aplicada a carros, motas, pessoas a pé, bicicletas, triciclos, carroças de cavalos, cavalos sozinhos, vacas sagradas, búfalos, javalis, camiões, autocarros, etc. Em toda a viagem só vi um acidente e foi numa auto-estrada e tive a oportunidade de atravessar a estrada a pé duas vezes e senti bem de perto este caos. Houve um dia até que estava no passeio numa rua de lojas e quando olhei para trás estava um indiano na sua mota, no passeio atrás de mim, à espera que eu me desviasse para ele regressar à estrada (eu nem ouvi a mota com tanto barulho que existia na rua). Enquanto esperava, o motociclista não apitou, não esbracejou, não gritou, não me atropelou, nada, apenas esperou que eu me desviasse e quando o fiz retomou a viagem a sorrir. Outro exemplo perfeito do funcionamento destas regras é o facto de, nas faixas de aceleração para a entrada nas outras estradas, os indianos levam mesmo a sério o termo “aceleração” já que quando lá chegam limitam-se a acelerar e quem vier na estrada principal, apenas tem que travar e esperar que estes passem.

  • Espelhos retrovisores – Outra regra de ouro do trânsito na Índia é que não se deve olhar para os espelhos. Esta segunda regra está directamente ligada à primeira e se o importante é olhar para a frente para encontrar uma nesga por onde passar, não se deve perder tempo a olhar para os espelhos. Aliás, a grande maioria dos condutores têm os seus espelhos recolhidos para dentro pelas seguintes razões: para evitarem a tentação de olharem para trás e se distraírem; para evitarem que os espelhos se partam nas tangentes que fazem a outros veículos; e sobretudo para que os veículos fiquem uns centímetros mais estreitos para caberem melhor no trânsito e nos espaços apertados que possam aparecer no dia-a-dia.

  • Buzina – A buzina (ou apito, se preferirem) é a principal “ferramenta” no trânsito indiano. O apito é utilizado para tudo, excepto para tratar mal os outros condutores e para chamar a atenção para eventuais asneiras no trânsito como acontece em Portugal. O road rage na Índia não existe. Lá apitam para informarem que um veículo lá está e dessa forma avisar os outros condutores para não mudarem direcção, evitando acidentes (até porque se alguém pretender efectuar uma ultrapassagem, não irá olhar pelo espelho para verificar se não estará já a ser ultrapassado), é claro que também serve para pedir aos veículos mais lentos para mudarem de direcção e para se desviarem, deixando passar os veículos mais rápidos. O apito é tão importante que todos os camiões têm pintadas nas traseiras frases como “Horn Please” ou “Blow Horn”, como vão ter a oportunidade de ver numa das fotos seguintes, incentivando a utilização do apito.
Um dos poucos elementos do trânsito que os indianos respeitam é o semáforo. Na Índia existem também rotundas, cruzamentos e passagens de nível com semáforos e neste caso, todos respeitam a sinalização luminosa. Em relação aos comboios, o trânsito é quase similar ao de Portugal até porque os comboios não conseguem andar fora das linhas, nas bermas e nos passeios, mas apitam na mesma tal como acontece no restante trânsito e por vezes também param nos sinais vermelhos para deixarem passar os carros nas passagens de nível (sim, é verdade, passei numa estrada onde existia um comboio parado à espera que o trânsito rodoviário passasse). Em relação aos motociclistas, em toda a viagem vi milhares de motas (literalmente), mas apenas vi dois ou três condutores a utilizarem o tradicional capacete que é obrigatório em Portugal. Digo tradicional, porque alguns indianos utilizam turbante e como tal, o turbante pode ser considerado como uma espécie de capacete (mas vou voltar ao assunto dos turbantes mais para a frente). Podem analisar as fotos seguintes para perceberem o que tentei explicar neste post:











Sem comentários: