Chegou o momento de revelar mais um dia da viagem de descoberta do caminho parvo para a Índia – o 5º dia.
Neste dia tinha chegado o momento de voltar a voar em aviões de um lado para o outro. No caminho para o aeroporto de Udaipur passei por uns campos onde estavam a cultivar umas plantas “medicinais”, as papoilas de ópio. São medicinais já que servem para “curar” a comichão aos drogados e servem também para “curar” a ressaca quando estão muito tempo sem consumir, chegando por vezes e dependendo das quantidades da dose consumida, a “curar” de forma permanente, todas as outras doenças que os drogados possam ter. Fosse para que fim fosse, existiam campos de papoilas como existiam campos de trigo, centeio, etc., eram comuns. Pelos vistos basta terem uma licença de cultivo para fins medicinais e qualquer um pode cultivar. Parámos num destes campos para tentar obter uma flor para recordação e para fins ornamentais (sim, também servem para colocar em jarras) mas quando o taxista se dirigiu às agricultoras (em inglês e neste contexto os agricultores denominam-se de “dealers”) para pedir uma flor rapidamente recusaram de forma cordial dizendo que não podiam. Faltou verificar se a cordialidade continuava caso o taxista tivesse insistido ou tentasse entrar e tirar uma sem autorização. Já estou a imaginar as enxadas a transformarem-se em kalashnikovs… Vejam as fotos do campo de papoilas “medicinais”:
Uma vez no aeroporto de Udaipur e já a caminho do “avião” (já vão perceber o porque da colocação de aspas na palavra avião) que nos iria levar até Nova Deli deparei-me com mais um momento que parecia retirado do filme do Indiana Jones – O Templo Perdido. No início deste filme o Indiana Jones fugiu do vilão Lao Che e dirigiu-se para o aeroporto de Xangai para apanhar um avião que os levassem de lá para fora. O avião em causa era um Ford 5AT Trimotor (Ford de Henry Ford e não de Harrison Ford) que era um pequeno avião de passageiros com três motores e movido a hélices. Podem ver mais informação sobre o avião original do filme neste link. O avião que encontrei no aeroporto de Udaipur era semelhante (o ATR 72-500), tinha também hélices, com a desvantagem de ter apenas dois motores (mesmo que pudessem ser mais potentes, eram menos e isso preocupou-me). Era tão pequeno que parecia um autocarro urbano com asas e hélices. Vejam as fotos seguintes onde podem ver mais uma vez o paralelismo entre a minha viagem e o filme do Indiana Jones:
Avião Ford 5AT Trimotor do Indiana Jones - Temple Of Doom no Museu:
Avião Ford 5AT Trimotor do Indiana Jones - Temple Of Doom no Aeroporto:
Avião ATR 72-500 no Aeroporto de Udaipur:
Avião Ford 5AT Trimotor do Indiana Jones - Temple Of Doom Foto da Hélice:
Avião ATR 72-500 no Aeroporto de Udaipur - Foto da Hélice:
Avião Ford 5AT Trimotor do Indiana Jones - Temple Of Doom Foto do Interior:
Avião ATR 72-500 no Aeroporto de Udaipur - Foto do Interior:
A grande diferença deste avião em relação aos normais é o ruído quando ainda está na pista já que é um pouco mais incomodativo e depois é mais propenso a turbulência, mas em condições normais até voa bastante bem e tem estabilidade suficiente. Uma diferença importante em relação ao voo do filme, foi que neste avião não existiam botes salva-vidas nem pára-quedas.
Depois de chegarmos a Nova Deli ficámos à espera do voo que nos iria levar para o norte, para a cidade de Amritsar. Efectuamos o check-in das malas, o embarque e tudo decorria normalmente até que começamos a esperar, a esperar e a desesperar pela descolagem que tardava em acontecer. Fomos informados que o piloto estava atrasado e que tínhamos de esperar.
Começaram imediatamente a surgir boatos que o piloto poderia ser uma mulher, o que podia automaticamente justificar o atraso. E era mesmo! Antes de começarem já com fantasias eróticas e a imaginar a senhora piloto com um fato de capitã pornográfico ou mesmo sem qualquer roupa como fizeram as hospedeiras da companhia espanhola Air Comet que se despiram para um calendário como forma de protesto por estarem vários meses sem receber os ordenados, informo que ela vinha vestida e trazia uma farda normal. Aproveito para colocar uma dessas fotos de calendário para informar os mais desatentos:
A senhora piloto tinha-se atrasado, como acontece com quase todas as mulheres. Normalmente atrasam-se porque não sabem o que vestir, mas neste caso penso que não teria grande escolha: ou vestia a farda de piloto ou então a farda de piloto, não existiam mais alternativas. Outra das razões que poderiam justificar o atraso foi o tempo que a senhora demorou a aplicar a maquilhagem ou então porque esteve a cozinhar para o marido e restante família até porque o voo deveria ter partido pelas 19:30, hora habitual para se começar a preparar o jantar. Ouvi ainda alguns boatos durante a espera que a capitã poderia ter-se atrasado porque saiu tarde de casa, mas a razão mais plausível pode ter sido que a senhora possa ter saído tarde da sua reunião com a pessoa que lhe vendeu a licença falsa de piloto (foi precisamente em Março de 2011 que a polémica estalou ao terem sido apreendidos vários pilotos homens e mulheres com falsas licenças de pilotagem de voos comerciais). A corrupção faz destas coisas, colocando a vida de pessoas inocentes e até de terroristas nas mãos de pessoas que não sabem pilotar. Não cheguei a perceber a verdadeira razão do atraso até porque a Capitã não se justificou quando chegou (provavelmente por estar envergonhada com a salva de palmas que recebeu quando passou pelo corredor em direcção ao cockpit) nem cheguei a perceber se a sua a licença de piloto era verdadeira ou não, o que é certo é que lá nos preparámos para descolar em direcção à Amritsar.
A senhora fechou a porta do cockpit, sentou-se, puxou o banco todo para a frente para chegar aos pedais e para tentar ver a frente do avião, verificou os retrovisores para ver se a maquilhagem e o penteado estavam bem e lá meteu o avião a trabalhar. Enquanto nos fazíamos à pista, a piloto ao fazer as manobras, lá conseguiu riscar as jantes do avião no passeio e como é normal nestes casos, nem parou para sair e ir tentar descobrir a origem daquela chiadeira metálica que todos ouviram. Já na pista e prontos para descolar, a capitã deixou o avião ir a baixo duas vezes (ainda bem que isto não aconteceu em pleno voo) e è terceira tentativa e 1 hora e tal depois da hora marcada, descolámos. O voo teve alguma turbulência (mas nada de especial tendo em conta que tínhamos uma mulher ao volante) e o avião “fugia” um pouco de traseira nas curvas talvez devido ao excesso de peso provocado pelas compras que a piloto colocou na mala do avião antes de descolarmos e mesmo tendo chegado bem ao destino, constatei que mesmo nos céus, elas são um perigo constante!
domingo, 8 de maio de 2011
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