sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Charcutaria



Hoje venho escrever sobre um tema de extrema importância para a conjuntura económica mundial – as secções de charcutaria dos hipermercados. E porque é que estou a escrever isto hoje? A resposta só podia ser uma – Porque sim e porque hoje foi o dia em que finalmente consegui juntar algum dinheiro para fazer compras. A quantia monetária amealhada foi de €2… Estamos a falar em bastante dinheiro tendo em conta a forma como foi conseguido. Foi tudo feito de forma legítima e nada de dinheiro fácil conseguido em assaltos a bancos, ourivesarias, etc. O dinheiro foi encontrado após muitos dias a olhar para o chão em busca de moedas. No total encontrei 15 moedas de €0.01, uma moeda de €0,20, oitenta e sete moedas de €0,02 e trinta e uma moedas de €0.05. Antes que comecem a fazer as contas para ver se a soma bate certa com os €2 que referi anteriormente, quero alertar que não, está errada! Se forem teimosos, fizerem a conta na mesma e a vossa soma tiver como resultado €2, posso-vos adiantar de que a matemática não é o vosso forte ou então a máquina de calcular que usaram está com poucas pilhas!

Fiquei apenas com €2 porque eu, tal como o resto das pessoas que pensam no seu futuro, decidi criar uma conta a pensar na reforma, só que, em lugar de investir num P.P.R., decidi apostar em algo do meu ramo de actividade, ou seja, numa conta P.P.E. (Perder Para Encontrar). Esta conta funciona da seguinte forma: de todo o dinheiro encontrado, tenho que pegar em algum, fechar os olhos e atirar com as moedas para bem longe, moedas essas que mais tarde terei de encontrar e só terei acesso a juros se essas moedas caírem junto a moedas que outras pessoas perderam! É muito parecido com o P.P.R. em que metemos lá dinheiro, os juros são quase impossíveis de obter e não sabemos se o vamos recuperar já que não sabemos se chegamos à reforma vivos.

Voltando às compras… Tomei banho, fui fazer um pouco de exercício para suar um pouco e depois lá me vesti para ir ao hipermercado! A parte do “suar” já a vão perceber mais à frente algures no que resta deste texto medíocre. Tinha pensado ir ao Carrefour, mas como não me apetecia nada ter que ir a França para comprar fiambre e mortadela, decidi ficar-me pelo Continente. Chegado ao estabelecimento fui a correr directo ao balcão de charcutaria para comprar 200gr de fiambre e 150 de mortadela simples. Cheguei lá, tirei a senha 114, olhei para o próximo número que iria ser chamado e descobri que era o 69. Em primeiro lugar gostaria de saber como é que era possível eu ter na minha posse a senha 114 se a máquina onde apareciam os números tinha apenas 2 dígitos?! Passadas 2 horas decidiram chamar o número 71 porque o 70 tinha ido comprar fruta. Em resumo, aquilo estava a correr bastante bem!

Enquanto esperava pela minha vez de ser atendido fui observando o comportamento dessa pouco conhecida espécie de compradoras de hipermercados. Estou a falar daquele grupinho habitual de mulheres que, apesar de terem sempre os números mais altos de todos, ficam encostadas à vitrina de exposição da charcutaria, tipo hienas à espera que um tigre largue o fiambre que acabou de caçar na savana africana e não deixam mais ninguém aproximar-se para ser atendido. Algumas delas nem sequer senha tiram para não perderem tempo na corrida para ocuparem a fila da frente! Cientistas afirmam que estas pessoas, agem com normalidade no seu dia-a-dia, mas quando frequentam hipermercados ficam com este comportamento selvagem. Esta doença é conhecida no meio científico por Síndrome Parvo.

Reparei também em duas empregadas que estavam a embalar uns chouriços. Tudo acontecia normalmente sem nada a apontar... quando de repente, uma delas espirrou para cima dos chouriços! Quando eu pensava que a outra empregada iria ficar indignada e lhe iria dar um raspanete devido a todo aquele muco nasal espalhado pela bancada, ela surpreendeu tudo e todos com um rotundo: “Santinha!”…e continuaram o seu trabalho.

Outra coisa que tive oportunidade de reparar enquanto ali estava foi no cuidado que todas as empregadas tinham em usar luvas para não contaminarem as mãos com todo o ranho existente nas carnes! Ainda dizem que não há higiene! Elas fazem de tudo com as luvas mas nunca sujam as mãos: limpam, manuseiam as carnes, varrem, coçam os sovacos, mexem no lixo, tiram macacos, etc. A ASAE devia aprender umas coisinhas com estas profissionais...

O que é certo, é que com todo aquele divertimento, o tempo lá foi passando até que chamaram o 114. Tinha chegado o momento de utilizar a minha arma secreta para conseguir abrir caminho entre aquela selvajaria de mulheres com o Síndrome Parvo – o suor. Lá fui e fiquei a 4 metros de distância da senhora que me estava atender. Foi o melhor que consegui porque o meu suor, ao que parece, já não as afecta, aliás, com os olhares de desejo que algumas me deitaram até parece que começam já a gostar. Os 4 metros conseguidos eram mais do que suficientes para a senhora da charcutaria conseguir ouvir os meus gritos! “QUERO 200GR DE FIAMBRE E 150GR DE MORTADELA!” gritei eu bem alto. Ela gritou de volta: “DE QUAL???” e eu respondi, “QUALQUER COISA SERVE!!!”. Eu até podia ter escolhido com antecedência caso tivesse ido ao site Continente Online e tivesse decorado ou imprimido a lista de marcas e modelos de todos os fiambres e de todas as mortadelas, mas depois lembrei-me de que não tinha impressora.

A senhora que me estava a atender começou pelo fiambre, colocou-o em cima da balança e gritou: “TEM 350 GR, PODE SER?”. Elas fazem sempre isto! Será política dos hipermercados? Será fetiche das empregadas? Não sei! Nunca vi nenhuma empregada a colocar quantidades mais baixas do que aquelas que são pedidas. Aquelas menos experientes, por vezes colocam menos 1 ou 2gr do que a quantidade pedida, mas depois vão sempre cortar mais três ou quatro fatias e aquilo sobe logo mais 50gr. A única forma de evitar isto é treinar o corpo e a mente para mentir, ou seja, pensar em 300gr e pedir 250gr, desta forma e com um pouco de sorte, conseguimos levar menos quantidade do que aquela que queremos na realidade! Com a mortadela que pedi aconteceu o mesmo, pedi 150gr, comprei 230gr, o que vale é que eu na realidade queria 250gr…

A empregada acabou de empacotar tudo e para me conseguir atirar o saco, teve pegar num presunto e atirá-lo para o outro lado, para a zona do peixe, para distrair as mulheres que lá estavam. Peguei na encomenda e lá fui para a caixa pagar. Havia ao todo 40 caixas, mas apenas uma estava aberta. Dirigi-me lá e mesmo antes de colocar os meus artigos no tapete, olhei para cima e dizia lá que era uma caixa de 10 unidades e eu, como só tinha 2 e apenas €2, acabei por não comprar nada!

A moral da história não sei qual será, o que eu sei é que com esta aventura, o Ainda Pior Blog conseguiu ficar um pouco pior!

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