sábado, 3 de janeiro de 2009

Crise 2009

Desde o operário da construção civil, até ao Presidente da República, todos afirmam que este ano vai haver uma enorme crise em Portugal. Eu não posso deixar de discordar com esta afirmação uma vez que ela é falsa. A crise é psicológica! “Porque é que a crise é psicológica?”, estarão vocês a questionarem-se neste momento! A explicação pode ser extraída da seguinte história, inventada por mim, mas que poderá ser comparada a muitas outras histórias reais por esse país fora:

Numa pequena freguesia do norte, com apenas quatro desempregados, existe uma padaria que emprega actualmente dois padeiros, pais de dois filhos cada, que levam para casa, no final de cada mês, pouco mais de €500 cada. Apesar de poder parecer um ordenado baixo, juntamente com os ordenados das suas esposas que trabalham numa pequena unidade têxtil, eles conseguem enfrentar todas as despesas mensais e ainda juntam um pouco de dinheiro que depositam no banco. Devido às constantes notícias lançadas nos meios de comunicação e aos comunicados do Presidente da República a avisar que em 2009, Portugal iria enfrentar uma enorme crise, estes dois padeiros, decidiram, e apesar de não necessitarem, fazer alguns cortes nos gastos com a alimentação, vestuário, transportes, lazer, etc., para pouparem um pouco mais. Decidiram comprar menos dois pães por dia cada um, não comprar qualquer peça de roupa este ano, não usar os transportes públicos e decidiram não ir ao restaurante almoçar ou jantar em família. Já em Fevereiro e em conversa com alguns amigos, estes dois padeiros comentaram que tinham conseguido poupar cerca de €50 por mês e incentivaram os amigos a fazer o mesmo. Dois ou três meses depois, já a notícia tinha espalhado a toda a freguesia e todos queriam ter mais €50 no banco, pelo que todos decidiram gastar menos. Como resultado desta poupança, em Agosto um dos padeiros foi despedido devido à diminuição na procura de pão naqueles primeiros meses do ano, a esposa do segundo padeiro foi dispensada pela unidade fabril já que a procura de vestuário tinha também diminuído, o único restaurante da freguesia teve de fechar levando para o desemprego dois empregados de mesa e uma cozinheira. No final do ano, mesmo recorrendo às poupanças entretanto acumuladas, uma em cada dez famílias desta freguesia deixou de pagar as prestações da casa ao banco, pelo que começaram 2010 sem uma casa onde morar. Podemos considerar que existiu na realidade uma crise nesta freguesia durante o ano de 2009.

Vejam o que poderia ter acontecido se esta história tivesse sido um pouco diferente:

Estes dois padeiros, decidiram investir algum do pouco dinheiro que lhes sobrava todos os meses para criarem uma equipa de futebol na freguesia. Falaram com os seus amigos que, ignorando todos os avisos de crise, decidiram juntar algum dinheiro para remodelar o campo de futebol da freguesia e formar a tal equipa. Arranjaram apoios do Instituto de Emprego e Formação Profissional, criaram uma pequena empresa de remodelações e de construção civil, contrataram as únicas quatro pessoas desempregadas na freguesia, compraram areia, cimento, tintas, ferramentas e começaram a remodelação. Passados seis meses, tanto o campo como os balneários estavam prontos para os treinos. Formaram então a equipa de futebol com todos os jovens da freguesia. A pequena unidade têxtil da freguesia ficou com a encomenda dos equipamentos, tendo que abrir turnos nocturnos para conseguirem finalizar tudo a tempo do início da época. Os equipamentos foram patrocinados pelo restaurante da zona. A padaria da freguesia patrocinava a equipa com a oferta de lanches para os miúdos no final de todos os jogos. Em Setembro de 2009, começou a época de futebol, e apesar de não ganharem muitas vezes, todos os fins-de-semana, os miúdos jogavam, divertiam-se, lanchavam e até jantavam no restaurante da freguesia (quando venciam, claro). A pequena empresa de construção começava a ter algum sucesso porque iam surgindo bastantes ofertas de obras de remodelação de pavilhões desportivos e de moradias e começava a ser inevitável o aumento de pessoal. Em 2010, os habitantes desta pequena freguesia, podiam orgulhar-se de não existir desemprego. Os dois padeiros viram os seus ordenados aumentados em €50 cada, as suas esposas tinham também sido aumentadas devido ao elevado número de encomendas da unidade fabril, o restaurante foi remodelado, pela recente empresa de construção criada, para aumentar a lotação do espaço. Podemos considerar que em 2009 não existiu qualquer tipo de crise nesta freguesia.

Alterem agora as personagens e os empregos nestas duas histórias para as vossas realidades e pensem um pouco se tenho ou não alguma razão quando afirmo que a crise é psicológica! Apesar de existirem famílias com muitas dificuldades, existem também famílias sem qualquer dificuldade e que não podem deixar de gastar o seu dinheiro. Se estas famílias que têm possibilidades continuarem a injectar dinheiro na economia, a economia só poderá melhorar aumentando a prestação de serviços e consequentemente aumentando o emprego e a qualidade de vida de todos!

4 comentários:

Paola Rhoden disse...

Bravos meu amigo. Seu texto confere com as opiniões de pelo menos metade dos bons economistas que conheço. Se a poupança aumenta, a economia para e o desemprego é fatal. Parabéns pelo texto.

Anónimo disse...

isto é muito bom para o ainda pior blog...

AindaPiorBlog disse...

Peço desculpa…

Descuidei-me e deu nisto! Vou tentar não repetir.

Anónimo disse...

Gostei do que li..

Toda a gente devia ler esta mensagem!!!